quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Grão

Escuro... Um grão. Mexia. Era matéria e estava vivo.
Envelhece... Mas antes, cresce, enrubesce e amadurece.
Na escuridão, se mexia. Um grão.
Revirando e mexendo, orgânica matéria.
Uma vida que crescia e que poderia nascer.
Contorcia e se abria.
Violeta, cor-de-rosa, amarelo e azul.
O azul mais cor-de-rosa que já se viu.
Sentia.
O cheiro colorido que produzia. Sentia.
Saudade do tempo que não se foi. Dos sonhos que ficaram.
O grão que contorcia, agora crescia.
Pequeno e frágil grão. Linhas e sons.
Liberto se sentia, ainda que preso estivesse pelos pés que não eram.
A cabeça não pensava. Voava.
O grão que libertava das coisas que os pés prendiam, cheirava um cheiro que não sentia.
Um cheiro de saudade.
Os pés futuramente cortados, podados e consumidos.
Perderia a identidade e na saudade para sempre ficaria.
O grão correria se pudesse, se o sonho tivesse.
Sentia o amarelo chamando o cor-de-rosa de azul.
Cores, agora não possuía, porque só sonho ele tinha.
Via sem os olhos, as nuvens que sorriam e o chamavam de grão.
As nuvens que de certo nunca alcançaria, porque um grão para sempre seria.
A colheita chegaria e seus sonhos perdidos para sempre estariam.
Dependia. Como sempre dependeu.
Porque grão ele foi e grão ele era.

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