quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Meias

Talvez o maior temor esteja no esperar a morte. E corres sem parar para ter o tempo de fazer tudo.
Porque acredita que o mais ínfimo milésimo de segundo é sagrado. E esqueces que o sagrado está no instante, na sabedoria, no prazer e na paciência.


Mas o que fazer quando a falta da paciência é o seu maior defeito?
A ansiedade, o entusiasmo, a alegria, o agora!

Não sei, não tenho respostas. Acho que o ‘não sei’ é a frase que mais uso em minhas respostas. Tudo eu não sei, nada eu não sei.

Sei que quando muito ansiosa, vejo que meus nervos e pensamentos agem mais rápido que meu corpo suporta e assim, ele dorme.
Meu corpo dorme profundamente, insônia nunca foi um problema para mim.
Aliás, a sonia é quem me persegue.

Tem vezes que temo ter dormido demais e ter deixado de fazer certas coisas, mas não sou ninguém. E sou ninguém negativo quando não durmo.


De noite sinto frio, mesmo no verão. Não gosto de dormir de meias.
Meias inteiras às vezes fazem falta.
De lã, algodão ou de linho.

Sei que terei muito tempo para dormir quando morrer, mas quando será o dia da minha morte?
E se eu não descansar o suficiente para viver?
E se eu estiver dormindo quando morrer?
E se eu estiver dormindo durante a vida?

E se eu viver?

Não sei, tenho paciência, mas sou ansiosa. Sou tolerante, mas perco a razão.

Eu corri, corro e acredito continuar correndo contra e a favor do tempo, mas durmo.
Por que acreditaria na paz e no amor se não acredito nos seres humanos?

Espero, desejo, acredito e me decepciono.
Desacredito, desespero e tenho ânsia, mas sonho. Estafa.
Pinto os cabelos por vaidade, combino cores, mas por vezes minha razão esfregou em meus olhos que o mundo é daltônico.

Durante o dia carrego sempre um casaco temendo sentir frio, um guarda-chuva para caso chova, uma presilha de cabelo caso sinta calor no pescoço, água caso sinta sede, papel e caneta caso tenha uma boa idéia, escova de dentes e pasta caso tenha que fazer minha higiene bucal, espelho...
Se pudesse, carregaria todas as pessoas que gosto caso sinta saudades, cama caso sinta sono, chinelos, meias caso sinta frio.

Mas meias é sempre a metade do que gostaria que fosse inteiro. Não carrego o inteiro, porque sou sempre a metade. Sou apenas pedaços.
Deixamos sempre pedaços de nós por onde andamos, corremos, falamos, pensamos, limpamos, sujamos. Gosto de ser metade, de deixar metades e de carregar metades. Assim sonho com o inteiro.
Nem quando nascemos somos inteiros. Ficamos metade preso a nossas mães. Quando morremos, deixamos metades nas pessoas que ficaram vivendo.
Talvez não tema que sinta temor por morrer ou por viver. Porque meu temor é apenas a metade.
Então vou comprar pão.

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