quinta-feira, 30 de outubro de 2008

À minha irmã

Dê,

Não lhe agradeci por ter cuidado de mim
como se fosse sua filhinha quando éramos pequenas.

Não lhe agradeci por ter me apresentado o mundo real.
Não lhe agradeci por ter arrumado o caminho pra eu seguir.
Não lhe agradeci por me levar nas festas com as suas amigas.

Não lhe agradeci por ter me dado as mãos
na primeira excursão do colégio.

Não lhe agradeci por levar-me aos seus passeios junto ao seu primeiro namorado.

Não lhe agradeci por ter me emprestado tantas bonecas,
maquiagem, sapatos, blusas e saias.

Não lhe agradeci por ter dividido o quarto comigo por vinte anos.
Não lhe agradeci por ter guardado tantos segredos.
Não lhe agradeci por me ajudar nas lições de casa.

Não lhe agradeci por ser a mais vaidosa
e me deixar ser a mais largada.

Não lhe agradeci por ter me ensinado a sorrir.
Não lhe agradeci por ter me ensinado a sambar.
Não lhe agradeci por ter me feito chorar quando foi para longe.
Não lhe agradeci por ter me ensinado que nem todo o rancor se guarda.
Não lhe agradeci por mostrar o verdadeiro significado de ser irmão.

Hoje, quero agradecer por tudo isso, e mais um montão de coisas que é impossível de contar aqui.

Obrigada por ser minha irmã, companheira, comadre e amiga!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Ser ou sou

Faz tanto tempo, que nem sei mais,
são tantas coisas, que nem sei quais são.

Tudo acaba sendo multiplicado pela dor e dividido pelo amor.

No final tudo que eu sinto é a pura matemática que acabo negando a existência da lógica.

É mais fácil resumir o inexplicável a uma força sobrenatural,
do que analisar o complexo pensamento simplório de existir.

Quem erra sou eu, eu sei.
Quem acerta, também sou eu. Mas não é sempre que sei.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

De papel

As ruas ficaram azuis por algumas horas, aos poucos as vi transformando-se
em verdes e depois vermelhos.

Ao fim da tarde, com a ajuda da garoa fina as cores foram se desfazendo,
rostos despedaçados, letras esfareladas...

Cinco de outubro, as ruas multicoloridas agora estavam esbranquiçadas e nos vidros dos carros, pequenos desenhos molhados surgiam.

Robson quase foi o meu nome.

No dia seguinte, os carros eram de papel e ainda assim alguns permanecem.

Folhetos, santinhos, cartazes, camisetas e banners enfeiavam a minha cidade.

As garagens não mais estacionavam as folhas das árvores que aos poucos caíam neste início de primavera.
As folhas secas davam lugar aos papéis que grudavam nos nossos sapatos, nos pneus dos carros, que arremessados eram pelos seguidores dos famintos partidários.

Tirei meu título de eleitor aos dezesseis anos por admirar ver o preparo dos meus pais neste dia e a ânsia de saber os resultados.
Mas a cada eleição entristeço-me em ver um sonho se tornar realidade e descobrir que era somente um sonho e que tudo era feito de papel.

A cada eleição vejo o cobrir das ruas, casas, cabeças, bolsos e ...somente e.