quarta-feira, 8 de outubro de 2008

De papel

As ruas ficaram azuis por algumas horas, aos poucos as vi transformando-se
em verdes e depois vermelhos.

Ao fim da tarde, com a ajuda da garoa fina as cores foram se desfazendo,
rostos despedaçados, letras esfareladas...

Cinco de outubro, as ruas multicoloridas agora estavam esbranquiçadas e nos vidros dos carros, pequenos desenhos molhados surgiam.

Robson quase foi o meu nome.

No dia seguinte, os carros eram de papel e ainda assim alguns permanecem.

Folhetos, santinhos, cartazes, camisetas e banners enfeiavam a minha cidade.

As garagens não mais estacionavam as folhas das árvores que aos poucos caíam neste início de primavera.
As folhas secas davam lugar aos papéis que grudavam nos nossos sapatos, nos pneus dos carros, que arremessados eram pelos seguidores dos famintos partidários.

Tirei meu título de eleitor aos dezesseis anos por admirar ver o preparo dos meus pais neste dia e a ânsia de saber os resultados.
Mas a cada eleição entristeço-me em ver um sonho se tornar realidade e descobrir que era somente um sonho e que tudo era feito de papel.

A cada eleição vejo o cobrir das ruas, casas, cabeças, bolsos e ...somente e.

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