terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu sei

Tive uma estranha sensação.
Algo me puxava para a direita, mesmo que para a esquerda quisesse estar.

Caminhei. Não estava embriagada, não estava anestesiada, mas era para direita que meu corpo seguia.

O chão estava distante dos meus pés por mais que nele estivessem apoiados.

Tiraram meu chão.

Queria ter sentido o frio do corpo, mas foi o frio da ausência quem me possuía.

A pequena bolsa ainda ficou sobre a estante. As chaves não abriram mais portas. Ainda escuto seu assobio me chamar.

Meus olhos vazaram sem sentir dor, senti a ausência da dor, senti o oco. O vazio que me consumia.

Senti o desespero da falta, ou o desespero do excesso do oco. Não soube para onde ir, para a direita ou pela esquerda, não estava perdida, não tinha que ir, mas precisava seguir mesmo ficando estática.

Não tinha escolha e não escolhi. Esperei.

Suei o suor da falta de exercício. Foi como o tempo voltasse, o tempo que passou, mas que ficou.
O tempo que não voltou.

Senti sono mesmo sem estar cansada, quis dormir. Meu corpo queria desligar a sensação que minha mente queria inventar, ele quis dormir.
Mas não dormi.

Apaguei as luzes e me banhei. A água estava mais fria do que quente, a pele reclamou, mas minha mente acordou. Esfreguei o corpo como se arrancasse parte da minha ausência de mim mesma.

Chorei até meu rosto inchar e sentir vergonha do som que saía da minha boca. Senti vergonha de mim mesma.

Vergonha mesmo estando sozinha.

Chorei até meu nariz entupir. Meus olhos pesaram.

“Eu sei” era o que a minha voz dizia. Repetia para mim, como se eu mesma quisesse ouvir, como se eu não ouvisse ou se não fosse dona dos meus pensamentos. Falei. Repeti.

Minha cabeça pesou e ouvia seguidamente músicas estranhas que eu mesma havia escolhido.

Quis dormir, mas a cama ainda girava e as lágrimas não secavam. Achei que pudesse estar com febre, quis vomitar, senti frio, esfreguei um pé no outro. “Eu sei”.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Batateira de berço

Batateira de berço. Nasci, dei meus primeiros passos, minhas primeiras descobertas, minhas grandes amizades, meu primeiro beijo e meu primeiro amor em São Bernardo do Campo. Casei e tive meu filho em São Bernardo.

Em 1980 as grandes euforias dos movimentos sindicais já haviam se amenizado e assim como a flor da primavera, no dia 22 de setembro eu nasci. Minha mãe conta que foi um parto muito difícil, que parecia que eu não queria nascer, nem fórceps me tirava de lá, foi preciso um médico enorme sobre ela para me por pra fora, ou pra dentro desse mundo, dessa vida.

Na minha infância não passei por grandes problemas financeiros, nem nunca soube o que era sentir fome. Estudei em grandes colégios da região, participei de muitas brigas e muitas festas. Conquistei grandes amigos e, sobretudo tive a oportunidade de agregar a minha família parentes de coração.

Lembro de passar viradas do dia 24 para o dia 25 de dezembro dentro do carro, de ouvir piadas sem graça, de acompanhar sem entender conversas políticas. Vi meu pai rir, brigar somente com olhares e rir quando estava extremamente nervoso.

Fiz desenhos nas mesas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Corri pelas escadas em algumas matinês de carnaval. Acompanhei conversas sérias em salas brancas e outras em bares.

Subi no palco, tive medo do elevador e me escondi atrás das pilastras do salão.

Foi em São Bernardo que aprendi a jogar baralho, aprendi a beber e me irritar com a fumaça dos cigarros. Foram muitos churrascos em oficinas com velhos chatos que bagunçavam o meu cabelo ou que tentavam arrancar uma palavra de uma criança muda.

Em São Bernardo também aprendi a dirigir carros, motos e a minha vida. Vi meu pai se entristecer com o que mais dedicou a sua vida. Senti ciúmes do sindicato e dos metalúrgicos, quando me esqueceu na escola porque estava lá ou com eles.

Foi no sindicato que tomei as minhas vacinas contra os vilões da saúde, que comprei minha camiseta estampada com o Raul Seixas. Era lá que a minha mãe fazia meus e de muitos outros exames de sangue, fezes e urina.

Foi no sindicato que olhei pela primeira vez ao microscópio e pude entender que havia seres menores, mas só hoje pude entender que foi lá também que pude acompanhar o crescimento dos seres maiores.

Lembro da minha mãe dizendo com carinho que um dia aquele prédio foi o mais bonito de São Bernardo. Contava-me histórias sobre o lugar e sobre aquelas outras tantas pessoas que faziam nó nos meus cabelos.

Hoje consigo reconhecer o quão importante aqueles velhos chatos eram pra cidade, para o meu pai, para a minha mãe, para o país e para mim. Consigo entender o significado daquele desenho do homenzinho rabugento que dizia “Hoje eu não to bom!”.

Nesse final de semana pude rever a história do país, de São Bernardo, da minha mãe, do meu pai e a minha. Assisti a construção do valor, do reconhecimento, da cultura e do amor.

Uma enorme sala lotada de pessoas queridas, que olhavam pra mim com carinho e diziam: “Ela é a do meio? Como está linda!”; “Seu pai foi um grande cara”; “Linda Inês!”; “Cadê seus irmãos?”; “Sua mãe não vem?”.

Não foi um dia qualquer, foi o dia em que grande parte da minha história estava reunida chorando e sentindo orgulho pela história do Cara.

Eu chorei nas cenas refletidas no telão que acalcam qualquer coração, mas chorei muito mais por conseguir entender o valor daquele sorriso que não pude dar quando era criança.

Levei a minha avó de 86 anos, nascida no Japão e que por volta dos 15 anos veio ao Brasil, teve 5 filhos. Que ainda mistura o vocabulário japonês ao português. Que acompanhou a luta de meu pai, a dedicação dele a família, mas, sobretudo aos agregados. Que acreditava na luta e que sonhava por trás dos pequenos olhos firmes.

Na maior parte do tempo se manteve quieta, comeu pipoca e tomou refrigerante, achou que as casquinhas dos petifours servidos eram de plástico, tomou a minha cerveja. Durante o filme, manteve o corpo projetado para frente, como se fosse ouvir melhor ou ler os lábios dos atores.

Quando a sessão chegou ao final pediu-me para que a levasse para cumprimentar o protagonista da história. Embora assediado, senti-me a obrigação de atender ao seu pedido, com muito custo consegui realizar o seu desejo. Com o corpo curvado para frente e a blusa azul clara com estampas amarelas abraçou e tirou fotos com o melhor amigo do meu pai.

Não sei o filminho que passou pela cabeça dela, mas chegamos em casa quase 00:00 e ela ainda estava disposta e não reclamou cansaço. Perguntei se ela gostou do filme, fez que sim com a cabeça e foi tomar banho.

No dia seguinte perguntei a minha tia se ela havia perguntado para a vó se tinha gostado do filme. Minha tia disse que sim, que de manhã havia chorado enquanto descascava verduras no quintal. E que somente naquele dia havia entendido as perdas da história.

Minha avó nasceu no Japão, mas também é batateira.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

E termina assim

E termina assim, sem explicação. Termina de novo e mais uma vez.

Termina sem final o que nunca começou.

Como a onda do mar que mesmo sem força aos poucos desmancha o enorme castelo de areia.

Construído com o tempo e muitas gotinhas de água misturadas a areia.
Que seca e se une uma a outra. Paciência.

Fica só a mancha escura no chão e depois as marcas de pegadas de cachorros, pessoas...constrói outra história, outro olhar, outra poesia.

Uma história que começa pelo final ou que termina no começo. Uma história.

Não uma linha, não um caminho. Uma sinapse. Um choque. Um momento.

Dias que somam meses e meses que somam anos e anos que não foram.
Procuro em cada detalhe um sentido, uma razão. Desaba.

Acabei antes que terminasse, antes que começasse. Borrou.

Borrou o desenho colorido feito com giz de cera, canetinha, purpurina e gliter. A traça comeu, o papel amarelou. A fita adesiva já não gruda mais.

Mas na parede ainda esta a marca que o papel fez com o tempo. Mesmo com tinta nova a marca ainda estará lá. E mesmo sem parede o lugar ainda será o mesmo. E a não-história se fez.

A purpurina já não tem o mesmo brilho. O tempo comeu. Estragou. Marcou. Mas eu estava lá pra sentir.

Eu vi a água se misturar a areia e virar castelo.
Senti o cheiro do papel e do giz.

Brinquei com a cola que secava nos meus dedos.

E estava lá quando a primeira onda chegou. A segunda. A terceira.


Acompanhei o caminho da traça.



Meu rosto brilhou quando assoprei o gliter.

Senti o peso no peito quando vi meu desenho manchar, meu castelo desmoronar
.

Eu sabia que a onda ia chegar, que a traça gosta de papel. Mas eu deixei.

Eu assoprei a flor para que pudesse ver as pequeninas partes brancas voarem. Eu vi.

Não chorei, não gritei, mas eu estava lá quando não podia mais ler as palavras escritas a lápis, mas eu sabia que elas tinham sido escritas.

Acabou antes de a bandeirinha ser estiada. Acabou antes de eu aprender a assinar.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Cotidiano

Será que vai fazer frio ou calor? Levo guarda-chuva?

Acho que este leite está azedo!

Não posso esquecer que hoje vence a quadragésima sétima parcela do apartamento.

Queria um cachorro.

Que bonitas essas florzinhas amarelas no canteiro da Via Anchieta!

Mas cachorro no apartamento...preciso comprar uma casa.

Será que o filme é um culto a personalidade?

“Epocler, você mais leve” – Epocler não é remédio para emagrecer, não gostei dessa propaganda, aliás, não sou a favor de propagandas de medicamentos.

Adoro ele, ícone da história, figura fantástica!

Que capacete é esse? Por que ele está usando um capacete cor-de-rosa?

Preciso comprar shampoo e mistura pra preparar a janta de hoje a noite, mas o dinheiro já está no final e preciso comprar pneus novos pro carro, os meus já estão carecas, tadinhos.

Ai, que trânsito é esse? Vou chegar atrasada. Não posso perder o emprego. A mensalidade da escola. E se estiver sem sinal da internet? Preciso arrumar mais dinheiro.

Será que a mãe melhorou? Podia ligar pra ela, né? To sem crédito, que saco. Precisava de um celular pós-pago. Não sei como vivíamos sem celular, ainda lembro dos orelhões vermelhos de ficha, depois ficaram azuis e com cartão. E os bips, aquilo era muito ruim, a mulher do outro lado da linha não entendia nada.

Ontem ela desmaiou.

Nossa, motoqueiro, de novo, sempre tem acidentes com motoqueiros. Acho que foi feio.

Kopenghagen, antes pensava em chocolate, nunca comi, muito caro.

Será que o recurso do projeto vai ser aprovado? A verba só dá para mais seis meses.

Ai tiazinha...não quero balas, tadinha tão velhinha vendendo balas no farol. Preciso ajudar a pagar o convênio da minha avó.

Hoje Kopenhagen é sinônimo de efeito estufa, não é mais só chocolate.

São tantos meninos dormindo nesse asfalto quente. Ouvi na televisão que ficam por até nove meses sem tomar banho.

Já tem enfeites de Natal! Será que vou conseguir comprar presentes esse ano?

Também queria ter meu nome em uma via pública. Bom Pastor, quem foi Bom Pastor? Será que tem Boa Mãe, Bom Pedreiro, Bom Técnico Reprográfico?

Já to cansada e nem acordei direito.

A crise chegou leve no Brasil. Vamos sediar as Olimpíadas de 2016, mas o mundo acaba em 2012. Será que é no começo, no meio ou no fim do ano? Quanto tempo eu ainda tenho? Devo gastar minhas economias? Comprar meu cachorro?

Amanhã é feriado, queria ir a praia, mas tem casamento.

Preciso emagrecer, minhas meias estão furadas.

Que imbecil! Bateu o guidão da moto no meu carro e nem pediu desculpas!

Ela disse que o irmão dela morreu na segunda-feira, parece que foi negligência.

Ar condicionado faz mal, mas está tão calor. Já é verão?

Será que o meu vestido é curto? Ainda bem que já acabei a faculdade, mas não acho que aquilo fosse um vestido, parecia uma blusa, tenho uma parecida só que é preta.

Cor-de-rosa, as rosas tem mais de uma cor. Por que o amarelo não é cor-de-banana? Acho que a rosa mais famosa é a vermelha, não a cor-de-rosa.

Dirigindo em São Paulo aprendi a usar a buzina. Por que não usam setas? Nem olham para o lado?

Se eu fumasse acenderia um cigarro, se não estivesse dirigindo tomaria uma cerveja. Mas e essas leis?

Cheguei! Atrasada, mas cheguei. Cansada, com calor, mas pelo menos não dei sete tiros no carro que me fechou na rua, nem esqueci meu filho dentro do carro. Hoje.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paciência



Queria poder enxergar o crescimento.


As partes se esticando, como se quisessem alcançar o céu.

O organismo que corre escondido à procura de sustento.

Um movimento fixo. Mutante. Invisível.

Não foge da claridade, nem compra proteção.

O corpo mutante, paciente, envelhece na busca da luz.


As cores despencam e estilhaçam ao chão exalando perfumes que se sente o gosto.


Não esfrega, nem desinfeta a pele enrugada.


Cria meios para a podridão admirável.


Abriga aproveitadores sem moeda de troca.


Quando fora de casa, raptada e sozinha, não chora nem ri.


Parada, admiramos a sua morte.

Admiro a paciência de uma árvore.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O ar



É só o ar que passa alimentando.

É só o ar que passa levando.
É só o ar que passa trazendo.

Que acalma essa sensação estranha.
Que dispara as batidas do meu coração.
Que tranqüiliza minha emoção.

O ar que limpa meus pensamentos.
O ar que faz bagunça na minha memória.
O ar que percorre os corpos.

É o mesmo ar que envolve pessoas.
É o mesmo ar que acaricia pedras e espalha sementes.
É o mesmo ar que me dá prazer de existir.

Que circunda minha cama.
Que arrasta minha alma.
Que traz vida e morte.

O ar que faz doer meu peito.
O ar que assopra minha ferida.
O ar que traz o som.

É o mesmo ar que me faz ver as cores.
É o mesmo ar que seca meus olhos.
É o mesmo ar que limpa meu olhar.

Que traz calor nos dias frios.
Que traz cheiro de chuva nos dias quentes.
Que arrepia minha pele.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ainda sinto

Uma presente saudade sinto de uma coisa que nunca se perdeu.
Uma saudade de um não sei o quê.

Ainda sinto saudade do que perdi sem nunca ter.

Sinto saudade de uma união que se formou, de um laço que se criou.
Sinto saudade do desenho desfeito.

Ainda sinto o cheiro, como se acabasse de sair ou chegar.

Uma timidez disfarçada num grito.
Uma brincadeira escondida num sentimento.

Ainda que desfeito o nó, ainda é a mesma fita vermelha e branca.

Sinto o prazer do momento, da insegurança, da aceitação.
Sinto o som das palavras ditas na cozinha e do gosto do chocolate do pote de vidro sobre a estante.

Ainda que embaralhada as cartas, os parceiros já haviam sido escolhidos.

Uma tarde de discussão e os desenhos emoldurados expostos na parede.
Uma porta de vidro, bolas coloridas na mesa de bilhar.

Ainda lembro de crescer e não achar conhecer.

Ainda me surpreendo por conhecer e acreditar desconhecer.

Ainda sinto o que sentia, como se o tempo tivesse estacionado.

Ainda vejo as ausentes pessoas presentes.

A lágrima ainda tem o mesmo gosto, o suor o mesmo cheiro, a voz o mesmo som, o olhar o mesmo brilho e o amor o mesmo tamanho.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

29, o último dos intes

Começou a contagem regressiva de 365 dias para o fim dos intes. Estranho como a energia muda na data do nosso aniversário, tudo bem que eu não deixo que ninguém que esteja ao meu lado esqueça, mas sinto sim as energias fluindo, emanando...

Não me importa se o fato de eu refrescar memórias, não consiga descubrir quem realmente se lembrou, mas eu esqueço a data do aniversário da minha mãe, tia, avó, namoro, casamento...e isso não significa que não ame as pessoas ou os momentos.

Eu sei que não é uma data que muda um sentimento, um pensamento ou um comportamento, as datas são números que se repetem todos os anos para nos lembrar dos momentos, e esses são importantes pelas sensações e lembranças.


Não sei se é por ser o último ano dos intes, mas cada momento desse dia significou um presente e cada presente um sentimento, um reconhecimento, um re-conhecimento.

Minha avó ao telefone “Parabéns fia!”, um abraço apertado, um pijama, 10 brigadeiros, um sorriso sincero, um “Bom dia mãe!”, uma orquídea rosa, um conjunto indiano azul, um bolo de morango, um beijo na boca, outro na testa, uns muitos recados na página virtual, outros no visor do celular.

“Parabén si! Felicidade eu sei que vc tem, então sei lá, dinheiro!!! hahaha bjo”.

Nos últimos dias dos meus intes reencontrei amigos, músicas, lembranças...e algumas vezes me pego pensando será que eu mereço tudo isso? Como foi que consegui cultivar tudo isso?

Choro pelas perdas, pela saudade, pelo buraco que ficou, a cicatriz que não fechou, mas nos últimos dias dos meus intes percebi que também chorarava por continuar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A caixa mágica

Nem deu meio dia, lá estava de malas prontas esperando a cavalaria para a viagem.

Passamos o feriado de sete de setembro em Peruíbe, no pequeno grande refúgio tão longe, mas tão perto.

Eis que nesse tão tão distante refúgio de corpo, pensamento e coisas, o Davi descobriu uma vitrola perdida dentre as velharias da goma, não pensou duas vezes em jogar o seu charme e pedir para a avó a vitrola para ele. Ela como toda boa avó que se preze tratou de atender aos caprichos do primeiro e único neto.

No entanto, junto aquela velharia, nenhum disco foi encontrado, um tanto estranho, mas o compreensível Davi aguardou os tão longos quatro dias de descanso até retornarmos a nossa terra natal, São Bernardo do Campo.

Logo na primeira noite que voltamos, fomos à procura e porque não dizer, à caça, de algum disco de vinil para podermos escutar naquela pequena e tão diferente caixa preta com alças.

Enquanto minha tia procurava nas caixas de papelão empoeiradas e perdidas nas estantes e prateleiras, eu e o Davi tentávamos desencaixar as duas pequenas caixas de som que formavam uma tampa para a vitrolinha.

Os parafusos que já haviam se fundido com as porcas, quase não se mexiam, era uma mescla de cores prateadas, verdes e brancas que pareciam calcificadas. Foi preciso além de muita força, um alicate, que por sua vez era mais velho do que a própria vitrola.


Desencaixadas as duas partes da tampa, abrimos uma pequena portinha debaixo da estranha máquina e um fio comprido e marrom encontramos, não perdemos tempo e logo colocamos na tomada e ligamos os outros fios das caixinhas de som em duas das quatro saídas da pequena máquina.

- Achei, achei! – veio minha tia exclamando.

Pegamos os pequenos e pesados discos de vinil que pareciam ainda mais velhos do que a própria vitrola e o alicate, colocamos na máquina e tcharam!!! Funcionou!

O disco ficou ali girando, girando com aquela agulha sobre ele e magicamente sons saíam pelas caixinhas pretas.


Agora, imagino o que esteja se perguntando, o que eles ouviam?

Pois é, essa é a melhor parte da história, nem eu ou o Davi entendíamos absolutamente nada do que se falava naquelas melodias, eram músicas japonesas.

Mas de repente peguei a mim e ao Davi ali, estáticos olhando, ou melhor, admirando aquela pequena caixa preta desmontada em três partes que soltava sons longos e agudos, os dois com leves sorrisos nos lábios enquanto o disco preto rodava.

- Mãe, é assim mesmo o som?
- É Davi, essa é a beleza do som de um disco de vinil.

Ele sorriu e passamos mais algumas horas ali, virando e alternando os pequenos e negros discos sobre a mágica caixinha, sem nada ainda entender.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Tenho. É. Quero

Tenho saudade daquele tempo, daquele cheiro, daquele abraço.
Tenho saudade do que ficou.
Tenho medo de perder o que não quis deixar crescer.
Tenho medo que não volte.

É um riso com lágrimas. São olhos que brilham. Aperto no peito.
É o que foi, é o que ficou, é o que está sendo e não sei se será.
É sintonia que se perde.
É o nó na garganta que não sobe nem desce.
É o não poder sentir.

Quero cada dia que pensei.
Quero cada minuto que passou.
Quero guardar cada segundo que senti.
Quero poder imaginar o que poderia ser, ter.

Tenho saudade da saudade que hei de sentir.
Tenho medo da saudade ficar e de saudade não ter.

Tenho.

É.

Quero.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Hoje é dia de ritual

Hoje é dia de ritual, um eclipse solar acontece em algum lugar enquanto a lua se esconde aqui.

Peço a lua que ilumine a noite enquanto o sol escurece.

Um ritual em que perpetuam aromas, cores e texturas. Um ritual em que nada se vê, se ouve ou se sente.

Hoje é dia de ritual, uma estrela brilha no céu enquanto outra se apaga na Terra. Uma vela que acende, enquanto outra se apaga com um sopro leve e curto.

O fogo que aquece e ilumina é o mesmo que queima e que arde. O sopro que alivia uma dor é o mesmo que arrepia de frescor.

Hoje é dia de ritual. O açúcar que adoça é o mesmo que adoece. O sal que conserva é o mesmo que incha.

Peço as chamas vermelhas, amarelas e negras que queimem, ardam e sequem o excesso. Que a água sacie a transparência e a palidez. Que o vento carregue. Que o açúcar adoce o gosto salgado e que o esse acabe com o gosto amargo.

Hoje é dia de ritual, em que os sentidos se afloram, misturam e fundem.

terça-feira, 26 de maio de 2009

23 de maio "Dia do sorriso"

“Uma imagem vale mais do que mil palavras” mas mesmo assim:

Não importa o tempo que passe as crianças continuam sendo crianças, as mães sempre dançam esquisito, os agregados mudam…ou não, uns partem e viram estrela e outros vem e dão vida ao nosso olhar.

Não importa o tempo que passe o passado se faz presente e o presente se faz passado.

Essas coisas de código genético são complicadas de entender no colégio, mas fácil de entender na família, brancos, negros, índios ou orientais mas um só sorriso. Dente de leite, dente permanente, ponte, pivô e dentadura.

E assim se fez mais um dia, uma tarde, uma noite…

O dia de contos de fadas em que pude ter o prazer de ver uma princesa caminhar com os pés descalços sentindo os grãos de areia entre os dedos, enquanto jovens idosos se embalavam no balanço e na gangorra as crianças subiam e desciam com seus namorados, noivos, maridos…

No dia do sorriso eu vi princesas, sapos, super-heróis, bêbados e equilibristas.

No dia do sorriso eu chorei de rir e ri por chorar.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Mãe

Sempre que chega o dia das mães, bate aquela sessão nostalgia e lembro-me das festinhas na escola em que cantávamos para as mães no pátio do colégio e entregávamos aquele presentinho feito com todo carinho para…

aquela que atendia o telefone com carinho respondendo: Pode, pode sim comer a bolacha do armário. Aquela que cantava tabuadas no gravador pra eu decorar. Que me dava gotinhas de pinga pra eu achar que era remédio. Que saía correndo do trabalho só pra me levar na aula de natação, aeróbica, órgão, judô, inglês…Que respondia dormindo que eu podia sim dormir na casa da tia. Que conheceu todos os amigos imaginários. Que me ensinou a gostar de Raul Seixas e Osvaldo Montenegro. Que passou madrugadas me esperando voltar das festas. E outras cuidando da minha febre. Que respondia do banheiro a correta conjugação verbal. Que deu-me gatos, cachorros escondido. Que levava ração no telhado para os gatos. Que deu-me apoio quando não o tinha. Que criou um chão quando o tiraram de mim. Que pinta a casa inteira sozinha. Que sorri com dor nas costas. Que bebeu leite congelado. Que usa a cadeira de balanço como guarda-roupas. Que chora na novela. Que nina um nenê que não existe quando está ansiosa. Que ensinou-me a gostar de arte sem entender ao certo o que é arte. Que sempre diz que meu cabelo está feio. Que fazia penteados horríveis no alto da minha cabeça. Que me vestiu de rosa quando queria azul. Que fazia um som ritimado ao entrar em casa com o salto do sapato sobre os tacos. Que arrasta enormes guarda-roupas sozinha. Que planta incansavelmente bromélias. Que aprende onde é o norte. Que faz química, letras, informática, espanhol. Que tinha fôlego quando tive bronquite. Que não sabe correr. Nem gritar. Que diminui a velocidade ao dirigir se está conversando. Que aceitou meus namorados. Que é amiga dos meus amigos. Que minha amiga. E que sempre pergunta ao meu filho se ele não podia ter escolhido uma mãe menos louca.


Mãe eu quero te dizer,
que todo esse mundo eu quero te entregar.
Porque ele sem você não é
mais que uma grande bola boba girando
no imenso azul do céu.

Mãe foi você quem me fez ver
as tristezas e acordes para uma nova canção
E que na vida é preciso perdoar e amar.
Cada segundo que se passa cantando
É para um amanhã melhor

La la la la la…

Não me lembro direito da letra dessa música, mas tenho certeza que a minha mãe lembra.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Entre-palavras

Quem é você?
Todos os meus antepassados.

Uma cor:
Papel em branco.

Uma palavra:
Morte.

Quem foi você?
Uma criança feliz e muito amada. Uma adolescente com problemas de auto estima. Um começo de adulto que nunca se completa.

Como você se vê aos 79 anos?
Dançando desenhos.

Quando você percebeu que estava madura suficiente para andar sozinha nas ruas?
Nunca.

Por que trocou de profissão?
Eu não tenho uma profissão.

Por que decidiu continuar seus estudos?
Um dia eu descobri que gostava.

Qual a sua relevância na sociedade?
A mesma de todos que estão aqui.

O que você tem feito para cumprir o seu papel como ser humano?
Procuro respirar e perceber isso.

Qual o papel do ser humano?
Viver da melhor maneira possível.

Um cheiro:
Do travesseiro da minha mãe.

Uma idade. Por que?
A de hoje. Porque é sempre o melhor momento quando se dá conta de que tem uma vida e se orgulha da sua história.

Uma pessoa:
... é feita de muitas outras.

Um sonho:
Não sentir tanto medo das pessoas.

Um pesadelo:
A morte com sentimento de missão não cumprida.

Uma realidade:
É sempre só um ponto de vista. É preciso tentar ver outros e abrir horizontes.

Uma frase:
I am aware of your existence.

Conte uma história de amor.
Minha mãe reprovou na escola. Meu pai também reprovou algumas vezes. Assim um dia se conheceram. Deram o primeiro beijo no ônibus de excursão da escola voltando do Rio de Janeiro. Ficaram juntos até a morte dele. No meio do caminho nasceram mais amores que se fazem companhia na vida.

O que é o amor?
Querer bem e fazer bem. Sentir saudade. Entender e aceitar; ou entender, não aceitar mas respeitar.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Solamentus

Há tanto pra dizer e nada para falar.

Há tanto que acaba não tendo nada.

São coisas que se igualam pela desigualdade, e isso tem estado cada vez mais claro.

Não é o estar completa, é o sentir completa, é o poder sentir saudade que faz o romance.

É a discussão curada pelo abraço ou uma briga que culmina num sorriso. É o brigar porque se ama.

É o que querer bem. É o estar bem.

Quando tento perceber o porquê de um sorriso perdido no tempo, é que vejo o tanto que já chorei.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Piruá

O Sol insiste em aparecer todas as manhãs e deixar o meu dia mais claro e assim aos poucos insiste também em tentar deixar mais claro os meus pensamentos.

Acordo todas as manhãs dentro de um quarto escuro e abro a janela frente a minha cama na esperança do dia estar escuro e chuvoso e assim me esconder num mundo que eu quiser imaginar.

Mas mais uma vez lá está o Sol que insiste em brilhar.

Por mais que não queira não há como com o pé direito não levantar, este é o único lado que é possível da cama descer, do outro uma branca parede está.

Nos dias frios a água que sai da torneira do banheiro está ainda mais gelada, como se dissesse que não adianta querer ficar adormecida. Nos dias quentes, refresca minha pele deixando uma sensação suave e me acordando para mais um dia.

Sigo meu caminho pelas ruas que deveriam estar cinza pela poluição e pela sujeira mas o que vejo são carros coloridos, enfileirados e ligeiramente desalinhados, nas calçadas as pessoas colorem a paisagem com suas roupas ou tons de pele. Se volto meu olhar para o alto lá estão os fios de eletricidade que traçam linhas num céu desenhado por nuvens.

No farol enquanto deveria estar irritada com o trânsito e insegura com os assaltos de uma cidade grande, um senhor sentado sobre um carrinho de mão exibe pequenos cofrinhos em formato de porquinhos pintados manualmente um a um, uma pintura não detalhista que demonstra um desinteresse pela perfeição e relata a necessidade da arrecadação. Porquinhos de cerâmica colorem o meio fio, sugerindo a calmaria de um dia no campo. A venda de pequenos cofres para aumentar um outro.

Já tentei não me apaixonar, não gostar, negar, mas o Sol insiste em brilhar.

Já tentei não chorar por perdas e desistir mas a cama ainda está encostada na parede e com o pé direito ainda tenho que levantar.

Já tentei odiar, mas os porquinhos ainda enfeitam o meu olhar.

Já tentei também assistir somente a canais de filmes sangrentos ou noticiários ao final da noite, mas em algum canal ainda os desenhos insistem em passar e mais uma vez sorrindo me faz sonhar.

Já tentei também com as pessoas não me importar, mas o telefone ainda insiste em tocar.

Não há como fugir da pipoca que insiste em estourar quando o grão de milho está pronto para se transformar. Até mesmo aqueles que alguns chamam de piruá, sinto prazer em morder e uma carne macia dentro da casca consigo achar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Gosto não

Não gosto de sentir a pele arder quando queimada de sol. Do cheiro de suor quando seco nas roupas. De pegar um produto na prateleira do supermercado quando está sem preço. Daquela dor fina debaixo das costelas quando respiro errado. De sentir o peso de um resfriado sobre os olhos. De ter que brigar. De evitar uma briga. De ligar para alguém e ninguém atender do outro lado. De quando minhas roupas ficam gastas. De quebrar copos. Das noites de domingo depois das 21:30. De quebrar a unha. De segurar o xixi. De morder o palito de sorvete. De bater o dedinho do pé. De me sentir sozinha. De café frio. De picada de mosquito. De esperar. De sentir o arder da pele sob o dedo quando a unha levanta. De acordar com os olhos inchados depois de chorar durante a noite. De conversar com pessoas vazias de espírito. De ficar de pé na fila do banco até o último osso da coluna doer. De desmaiar. De decorar textos. De fazer conta de divisão. Da marca que fica sobre o banco quando eu suo. Dos mosquitos que tentam me acordar durante a noite. De beliscão. De esconder sentimentos. De quando saem espinhas dentro do nariz. De assistir a uma missa ou culto. De pressa. De ver o meu sangue saindo na seringa. De espinha sem ponta. De morder a bochecha. De quando o computador trava. Da dor que fica no couro cabeludo quando solto o cabelo que ficou preso o dia inteiro. De mentiras e de ter que mentir. De aftas. De toalha molhada sobre o travesseiro. De cheiro de cachorro molhado. De levar susto quando a bexiga estoura enquanto assopro. De mal hálito. De crianças com meleca seca no nariz. Que mexam no meu umbigo. De roupas com propagandas e me sentir um outdoor. De pano de prato novo. De perder o saltinho do sapato. De ver minha mãe chorar. De atitudes sem explicação. De quando quebra a ponta do lápis.

Gosto mais

Ainda gosto de lamber a camada espessa que fica na tampinha do iogurte. De amassar os últimos grãos de arroz do prato até que entrem pelos vãos dos dentes do garfo. De cortar as pontas dos cabelos quando fico irritada. De estralar os dedos dos pés antes de pôr os sapatos. De sentir os pequenos chumaços de cabelo deslizando entre meus dedos enquanto estou impaciente e pensativa. De espirrar pelo menos três vezes todas as manhãs ao acordar. De estralar os ossos das costas ao deitar. De chorar o choro contido quando vejo alguém chorando, de compartilhar a dor que não sinto. De rir quando lembro das quedas no pátio da escola ou no meio da sala de aula. Gosto de ver a tolha passando e levando as gotas de água que ficam sobre a minha pele depois do banho. De tentar entender as pessoas pelo modo de vestir, andar, falar e escrever. De cansar de mim e pegar no sono. De me perder no excesso de informação das lojas de R$ 1,99. De espirrar com o cheiro de naftalina do guarda-roupa da minha avó. De ver o desenho do tronco das árvores a procura da luz do sol. De ficar pensando sobre o pensamento que os animais podem ter. De ver os olhos brilhantes de uma criança, aquele brilho de quem ainda se facina com o mundo. Das dobras do rosto da minha avó. De ouvi-la cantar. Da sensação do pano frio e molhado em minha testa quando tenho febre. Das linhas que ficam desenhadas no céu quando passa um avião. Das ruas coloridas quando caem as flores das árvores. De pisar em folhas secas. De correr atrás das pombas. Da dor que ficam nos músculos depois de um dia de muito exercício. De ficar sozinha. De ficar descalça. De sapatos coloridos. De observar a tartaruga. De poder chorar até soluçar. De dormir de coberta. De cochilar no sofá. De ler no metrô. De dormir enquanto o carro balança. De chorar num filme triste. De chorar de tanto rir. De comer flocos de coco doce. De achar dinheiro no bolso do casaco. De pipoca vermelha doce, aquelas que ficam grudadas. De arrancar lascas de tinta seca da parede. De raspar e lamber o brigadeiro que fica grudado na panela. De alho frito. De puxar os fiozinhos da banana quando a descasco. De observar a manteiga derreter sobre o pão quente. De ver a água secando quando se faz um castelo com pingos de areia da praia. De ouvir histórias de vida. De joaninhas e tatu-bola. De ver a lagartixa comendo mosquitos. De assistir desenhos. De sorvete de flocos. De chocolate amargo. De dar susto no gato. De arrancar casquinhas secas dos machucados. De tirar o sutiã. De me equilibrar na beirada da calçada. De imaginar como é sentir frio num dia em que está calor. De imaginar como é sentir calor num dia em que está frio.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Traço

É compreensível por mais que não aceite, mas prefiro as pessoas como pessoas à pessoas como outras.

Gosto de pessoas que mostrem que são humanas na expressão de sentimentos sejam eles felizes, tristes ou indiferentes.

Gosto de ouvir histórias de vida e não saber a moral da história. De ver os olhos brilharem, de observar os lábios se mexerem e as marcas do rosto traçar linhas.

De ver a combinação de tamanhos e cores a cada dia na escolha para se mostrar ao mundo, o modo de posicionar os fios de cabelo, em que perna apóia mais o peso do corpo que carrega. Os braços que andam soltos ou presos nos bolsos.

Pessoas que emitem personalidade e opinião, não pessoas que alimentam ser o reflexo da sociedade, de um ícone, um ídolo. A poesia está na composição, na criação, na sensibilidade da escolha, não no resultado final.

Cada pessoa uma história por mais que se enganem ser o outro. Não se escolhe, se é. É o caminho quem nos torna e não nós que tornamos o caminho. A vida nos faz, inesperadamente, por mais que escolhamos quem seremos na vida.

A imagem é só um reflexo que permite a admiração, como uma orquídea florescendo, não se é a flor, mas a análise que se faz sobre a beleza, força, crescimento, cor e delicadeza.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O ser extremo

Toda negação possui em sua essência, a existência de sua afirmação.

O extremismo, a opinião do extremo, nada mais é do que a forma traumática do conhecimento da não-afirmação é a negação e a incapacidade da aceitação.

O não conhecimento da causa produz uma incansável busca de sua solução até atingir o seu significado, mas não a sua aceitação. Ao mesmo tempo em que a negação da possibilidade, ou seja, a sua não aceitação, produz o extremismo.

Não há como se defender a negação, defender sem a possibilidade de permitir o conhecer, pois este só afirmará a existência da situação traumática ou a discordância da idéia de fato.

Quando nega-se o aceitar das diferenças, nega-se a aceitação do ser como formador de conhecimento e pensamento, o que torna-se incoerente com a defesa do extremismo.

O crescimento do ser como produtor de idéias está na situação harmônica e não na afirmação da existência da problemática.

O ser extremo desconhece os valores humanos, fixado somente nos fatos racionais, focado na sua fundamentação, incapaz de valorizar a própria consciência como ser dimensional.
Torna-se incansável então, a busca pela auto-afirmação, pela defesa da negação e do extremismo.

Não há como almejar a vitória sem conhecer as capacidades do adversário e suas razões.

A sabedoria não é adquirida, mas sim construída e cultivada.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pessoinhas

Aprendi a gostar das pessoas, de algumas...

Aprendi a aceitar, talvez...

Aprendi a mentir, cresci...

Tem dias que coloco salto, outros sandalinhas que prendem no tornozelo...

Quanto mais conheço, menos entendo...

Meu pé de pimenta secou, mas minha orquídea floriu....

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sexta com chuva

Os dias têm amanhecido em lágrimas.

Um choro contido marcando um desenho por onde passa.

Há momentos em que parece que o céu vai desabar,
como se um soluço acabe em desencadear um choro desesperado,
mas não, ele continua contido.

Tem quem chore junto ao dia, tem quem ria de momentos assim, para outros tanfo faz.

Em dias assim, não sinto vontade de abrir os olhos e levantar,
mas sei que não devo ao mar de lágrimas me entregar.
Visto cores para um mundo daltônico para quem sabe um cego eu fazer sorrir.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Maldade

Sabe quanto tempo eu impedi que a maldade saísse de mim?

Sabe quanto tempo eu quis o bem de todo mundo?

E fiz mundos e fundos pra poder ver as coisas cor-de-rosa?

Não, né?

Pois é... a vida é uma caixinha de surpresas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Horizonte

Parece até que eu já sabia.

Será que quando nascemos, sabemos exatamente como será a nossa vida?

No que diz respeito à aceitação, comportamento e atitude?

Parece que eu já sabia, por isso por tanto tempo neguei a minha existência nesse mundo.

Tiraram-me de um casulo e mostraram que fora dele existia um mundo cheio de vida, cores e sabores. Apoiaram-me enquanto fortalecia as asas.

Voei. Cai. Levantei e voei de novo. Pra quê?

Se descobri enquanto voava, a beleza das formas e dos movimentos, dos pensamentos e sentimentos. Mas acima de tudo, descobri que voar não era aquilo e que voava de uma forma errada.

Disseram-me que não deveria sentir o que sentia, pensar o que pensava, fazer o que fazia, comer o que comia...

Pra que voar se meu vôo não é aceito?

Devo eu ao casulo voltar?

Devo eu então viver uma eterna mentira?

Incrivelmente sei que todos pensam como eu, sentem como eu, comem como eu, mas se negam a agir como eu. Portanto estou errada.

Hoje tento me enganar sendo um alguém que não sou, voltando todos os dias ao meu casulo e lamentando um horizonte que nunca será meu.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ganhos = Perdas

É tão curto o caminho para mendingar.

É tão curto o prazer para temer.

São linhas que traçamos pra seguir
e outras que seguimos um traçar.

São histórias, somente histórias que ficam, palavras que dizemos, gestos que demonstramos.

Penso que não há hora certa, ao mesmo tempo que todas as horas estão certas.

Não há planos, pois não há certeza de futuro.
E o que foi feito é passado.
Não há o que temer, não há erros, somente riscos.

Demonstre, deseje, faça, perca!