sexta-feira, 3 de abril de 2009

Solamentus

Há tanto pra dizer e nada para falar.

Há tanto que acaba não tendo nada.

São coisas que se igualam pela desigualdade, e isso tem estado cada vez mais claro.

Não é o estar completa, é o sentir completa, é o poder sentir saudade que faz o romance.

É a discussão curada pelo abraço ou uma briga que culmina num sorriso. É o brigar porque se ama.

É o que querer bem. É o estar bem.

Quando tento perceber o porquê de um sorriso perdido no tempo, é que vejo o tanto que já chorei.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Piruá

O Sol insiste em aparecer todas as manhãs e deixar o meu dia mais claro e assim aos poucos insiste também em tentar deixar mais claro os meus pensamentos.

Acordo todas as manhãs dentro de um quarto escuro e abro a janela frente a minha cama na esperança do dia estar escuro e chuvoso e assim me esconder num mundo que eu quiser imaginar.

Mas mais uma vez lá está o Sol que insiste em brilhar.

Por mais que não queira não há como com o pé direito não levantar, este é o único lado que é possível da cama descer, do outro uma branca parede está.

Nos dias frios a água que sai da torneira do banheiro está ainda mais gelada, como se dissesse que não adianta querer ficar adormecida. Nos dias quentes, refresca minha pele deixando uma sensação suave e me acordando para mais um dia.

Sigo meu caminho pelas ruas que deveriam estar cinza pela poluição e pela sujeira mas o que vejo são carros coloridos, enfileirados e ligeiramente desalinhados, nas calçadas as pessoas colorem a paisagem com suas roupas ou tons de pele. Se volto meu olhar para o alto lá estão os fios de eletricidade que traçam linhas num céu desenhado por nuvens.

No farol enquanto deveria estar irritada com o trânsito e insegura com os assaltos de uma cidade grande, um senhor sentado sobre um carrinho de mão exibe pequenos cofrinhos em formato de porquinhos pintados manualmente um a um, uma pintura não detalhista que demonstra um desinteresse pela perfeição e relata a necessidade da arrecadação. Porquinhos de cerâmica colorem o meio fio, sugerindo a calmaria de um dia no campo. A venda de pequenos cofres para aumentar um outro.

Já tentei não me apaixonar, não gostar, negar, mas o Sol insiste em brilhar.

Já tentei não chorar por perdas e desistir mas a cama ainda está encostada na parede e com o pé direito ainda tenho que levantar.

Já tentei odiar, mas os porquinhos ainda enfeitam o meu olhar.

Já tentei também assistir somente a canais de filmes sangrentos ou noticiários ao final da noite, mas em algum canal ainda os desenhos insistem em passar e mais uma vez sorrindo me faz sonhar.

Já tentei também com as pessoas não me importar, mas o telefone ainda insiste em tocar.

Não há como fugir da pipoca que insiste em estourar quando o grão de milho está pronto para se transformar. Até mesmo aqueles que alguns chamam de piruá, sinto prazer em morder e uma carne macia dentro da casca consigo achar.