terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Eu sei

Tive uma estranha sensação.
Algo me puxava para a direita, mesmo que para a esquerda quisesse estar.

Caminhei. Não estava embriagada, não estava anestesiada, mas era para direita que meu corpo seguia.

O chão estava distante dos meus pés por mais que nele estivessem apoiados.

Tiraram meu chão.

Queria ter sentido o frio do corpo, mas foi o frio da ausência quem me possuía.

A pequena bolsa ainda ficou sobre a estante. As chaves não abriram mais portas. Ainda escuto seu assobio me chamar.

Meus olhos vazaram sem sentir dor, senti a ausência da dor, senti o oco. O vazio que me consumia.

Senti o desespero da falta, ou o desespero do excesso do oco. Não soube para onde ir, para a direita ou pela esquerda, não estava perdida, não tinha que ir, mas precisava seguir mesmo ficando estática.

Não tinha escolha e não escolhi. Esperei.

Suei o suor da falta de exercício. Foi como o tempo voltasse, o tempo que passou, mas que ficou.
O tempo que não voltou.

Senti sono mesmo sem estar cansada, quis dormir. Meu corpo queria desligar a sensação que minha mente queria inventar, ele quis dormir.
Mas não dormi.

Apaguei as luzes e me banhei. A água estava mais fria do que quente, a pele reclamou, mas minha mente acordou. Esfreguei o corpo como se arrancasse parte da minha ausência de mim mesma.

Chorei até meu rosto inchar e sentir vergonha do som que saía da minha boca. Senti vergonha de mim mesma.

Vergonha mesmo estando sozinha.

Chorei até meu nariz entupir. Meus olhos pesaram.

“Eu sei” era o que a minha voz dizia. Repetia para mim, como se eu mesma quisesse ouvir, como se eu não ouvisse ou se não fosse dona dos meus pensamentos. Falei. Repeti.

Minha cabeça pesou e ouvia seguidamente músicas estranhas que eu mesma havia escolhido.

Quis dormir, mas a cama ainda girava e as lágrimas não secavam. Achei que pudesse estar com febre, quis vomitar, senti frio, esfreguei um pé no outro. “Eu sei”.