domingo, 25 de abril de 2010

Esses dias eu chorei

Esses dias eu chorei. Chorei por chorar.
Da mesma forma que se ri, eu chorei.
Assim como às vezes eu sinto sono, eu chorei.

Chorei um choro sentido, um choro contido, um choro. Eu simplesmente chorei.

Veio sem razão, veio sem a noção, ele simplesmente veio e me tomou.

Ele veio e fez parte de mim.

O senti sendo criado e quando percebi já estava querendo partir.

Assim como qualquer outra necessidade física do ser humano, apareceu, fez parte de mim e se foi.

Esses dias eu chorei. Chorei por chorar.

E não foi difícil achar um motivo para ele crescer e ganhar força.

Assim como uma gargalhada, eu chorei.

Deixei que me tomasse. Deixei-me sentir essa sensação. Chorei até soluçar.

Chorei até a cabeça ficar pesada e os olhos incharem.

Esses dias eu chorei.

22 de abril

Nunca ganhei na mega-sena, não ganhei um carro no sorteio do shopping. Não ganhei a viagem na rifa. Não aprendi a andar de skate, nem a surfar.

Nunca desci o rio de bóia, nem pulei de pára-quedas ou de asa delta.

Nunca dirigi um caminhão, nem comi ostra. Não chorei a morte do ídolo nacional, não sofri na copa do mundo.

Não senti as dores do parto. Nunca perdi o sono, nem engessei o cotovelo.
Mas já me decepcionei com sonhos.

Já ganhei quando perdi, e continuo ganhando.

A cada dia vejo a reafirmação da bela decepção e por isso continuo acreditando.

Hoje é 22 de abril de 2010. Tenho 29 anos, cinco meses e alguns dias.

Tenho uma família maravilhosa, que está crescendo sempre.

Tenho poucos amigos, muitos amores e outros tantos queridos.

O tempo vai passando, mas sou eu quem estou ganhando.

O cabelo vai caindo e liberando espaço para experiência.

Os dentes vão amarelando e colorindo o dia.

E aos poucos sei que me curvarei para o mundo, até o dia em que ele quiser que eu faça parte dele.