
Queria poder enxergar o crescimento.
As partes se esticando, como se quisessem alcançar o céu.
O organismo que corre escondido à procura de sustento.Um movimento fixo. Mutante. Invisível.Não foge da claridade, nem compra proteção.
O corpo mutante, paciente, envelhece na busca da luz.
As cores despencam e estilhaçam ao chão exalando perfumes que se sente o gosto.
Não esfrega, nem desinfeta a pele enrugada.
Cria meios para a podridão admirável.
Abriga aproveitadores sem moeda de troca.
Quando fora de casa, raptada e sozinha, não chora nem ri.Parada, admiramos a sua morte.
Admiro a paciência de uma árvore.
É só o ar que passa alimentando.
É só o ar que passa levando.
É só o ar que passa trazendo.
Que acalma essa sensação estranha.
Que dispara as batidas do meu coração.
Que tranqüiliza minha emoção.
O ar que limpa meus pensamentos.
O ar que faz bagunça na minha memória.
O ar que percorre os corpos.
É o mesmo ar que envolve pessoas.
É o mesmo ar que acaricia pedras e espalha sementes.
É o mesmo ar que me dá prazer de existir.
Que circunda minha cama.
Que arrasta minha alma.
Que traz vida e morte.
O ar que faz doer meu peito.
O ar que assopra minha ferida.
O ar que traz o som.
É o mesmo ar que me faz ver as cores.
É o mesmo ar que seca meus olhos.
É o mesmo ar que limpa meu olhar.
Que traz calor nos dias frios.
Que traz cheiro de chuva nos dias quentes.
Que arrepia minha pele.
Uma presente saudade sinto de uma coisa que nunca se perdeu.
Uma saudade de um não sei o quê.
Ainda sinto saudade do que perdi sem nunca ter.
Sinto saudade de uma união que se formou, de um laço que se criou.
Sinto saudade do desenho desfeito.
Ainda sinto o cheiro, como se acabasse de sair ou chegar.
Uma timidez disfarçada num grito.
Uma brincadeira escondida num sentimento.
Ainda que desfeito o nó, ainda é a mesma fita vermelha e branca.
Sinto o prazer do momento, da insegurança, da aceitação.
Sinto o som das palavras ditas na cozinha e do gosto do chocolate do pote de vidro sobre a estante.
Ainda que embaralhada as cartas, os parceiros já haviam sido escolhidos.
Uma tarde de discussão e os desenhos emoldurados expostos na parede.
Uma porta de vidro, bolas coloridas na mesa de bilhar.
Ainda lembro de crescer e não achar conhecer.
Ainda me surpreendo por conhecer e acreditar desconhecer.
Ainda sinto o que sentia, como se o tempo tivesse estacionado.
Ainda vejo as ausentes pessoas presentes.
A lágrima ainda tem o mesmo gosto, o suor o mesmo cheiro, a voz o mesmo som, o olhar o mesmo brilho e o amor o mesmo tamanho.