Não fiz primeira comunhão,
mas já cantei em um coral na igreja.
Na infância, não quis aprender a rezar,
mas já pedi a Deus paciência.
Ganhei uma bíblia, mas nunca tive paciência de ler. Quando me vi em apuros, chorei e perguntei aos céus por quê.
Dei três pulinhos e pedi a São Longuinho.
Fui em velórios e participei de missas de casamentos, sétimo dia....pulei três ondinhas no ano novo.
Acendi velas na areia. Disse “Graças a Deus” e “Se Deus quiser”.
Desviei da entrega na encruzilhada e balbuciei “Salve”.
Fui na festa de São João, comi churrasco e tomei vinho quente. No Natal, acreditei no Papai Noel,
mas nunca vi Jesus.
Na páscoa, já encontrei o coelhinho,
mas nunca ninguém ressuscitou.
Já quis agradecer a Santo Expedito,
mas nunca pedi nada a ele.
Nunca aprendi a gritar “Truco ladrão!”.
Me batizaram e batizei meu filho,
mas até hoje me pergunto por que?
Não pintei os santos e meu cachorro morreu.
Meu gato sumiu e meu pai também.
Roubaram a minha crença e o meu fusca. Chatiei.
A paciência sempre volta, dei três pulinhos e acendi o incenso no altar.
Penso como não sentir frio em dias gelados e ainda sim vestir saia.
Valorizo conseguir a não se render as tentações da moda e ainda não cortar os cabelos.
Gosto de tomar sol na praia usando biquíni.
Casei e fiz promessas.
Pequei e vesti branco.
Não me ensinaram o que é o pecado,
mas ainda sei que já o fiz. No meu enterro quero bexigas coloridas.
Não usei preto no enterro, não abracei o cadáver,
mas chorei a sua ausência.
Não mandei flores,
mas dei abraços sinceros.
Meu pé de feijão no copinho de café murchou, meu peixe pulou do aquário e minha cachorra foi atropelada. Minha tartaruga sumiu.
Puxei as folhinhas das costas das formiguinhas e senti prazer em ver a lesma derreter no sal.
Disse “eu te amo” a muitas pessoas,
mas ainda me indago sobre o que é o amor.
Tive medo do escuro por saber que nunca estaria sozinha.
Já desejei o mal, mas fiz o bem. Nem tudo que é bom, me faz bem.
Descobri a vida, quando conheci a morte.
Fiz o desejo quando achei ter visto o cometa,
mas não me lembro se realizou.
Joguei meus dentes no telhado, tenho outros na gaveta e ainda guardo uns na boca.
Mastigo o chiclete,
mas sempre escovo os dentes.
Acendo a luz quando está escuro e desejo o escuro quando está claro.
Tenho buda na sala e uma cruz no guarda-roupas. Limpei o chão com sal e coloquei um galho de arruda debaixo do colchão. Tenho um anjo no criado mudo.
Briguei na escola,
mas senti dó em ter que agredir.
Judiei do filhote de rato na gaveta do arquivo e chorei quando deram a minha bicicleta.
Senti frio nos pés usando sapatos e suaram quando descalços.
Tomei cerveja na quaresma. Dancei no carnaval.
Aproveitei a vela quando acabou a energia e agradeci meus dias.
Joguei perfume.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Espero
Sempre espero, mesmo assim ainda me surpreendo.
Des-espero, mesmo assim ainda me surpreendo.
Sempre corre um sorriso no meu rosto ao passo que uma lágrima se esboça.
Eu conheço o que foi, mas os detalhes ainda caminham. Por isso, des-espero.
Mesmo assim espero.
Des-espero, mesmo assim ainda me surpreendo.
Sempre corre um sorriso no meu rosto ao passo que uma lágrima se esboça.
Eu conheço o que foi, mas os detalhes ainda caminham. Por isso, des-espero.
Mesmo assim espero.
Que sente
Chorou intensamente, nada se ouvia, mas conseguia ver a infelicidade estampada em seu rosto claro.
Não é surpresa alguma presenciar manifestações de diferentes emoções, mas naquele momento era uma cena incomum.
Discretamente passava as pontas dos dedos delicados sobre o rosto como se quisesse limpar o ferimento na alma.
Lavava com pequenas porções de água a perfeita representação do que deveria representar semente a alegria.
Nada se ouvia, compartilhava o silencio externo por um conflito antigo do interno. Nunca se perdoou. Mas sente orgulho pelo que fez, por isso chorava.
Não se deve envergonhar por buscar a felicidade e por expressar a primeira manifestação do sentimento humano.
Chorou. Não era agora a dor a separação forçada, mas a dor da incompreensão.
Não é surpresa alguma presenciar manifestações de diferentes emoções, mas naquele momento era uma cena incomum.
Discretamente passava as pontas dos dedos delicados sobre o rosto como se quisesse limpar o ferimento na alma.
Lavava com pequenas porções de água a perfeita representação do que deveria representar semente a alegria.
Nada se ouvia, compartilhava o silencio externo por um conflito antigo do interno. Nunca se perdoou. Mas sente orgulho pelo que fez, por isso chorava.
Não se deve envergonhar por buscar a felicidade e por expressar a primeira manifestação do sentimento humano.
Chorou. Não era agora a dor a separação forçada, mas a dor da incompreensão.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Pendurado
Agora vejo o mundo emoldurado.
Vejo em detalhes as imagens fragmentadas, que nem sempre são coloridas.
Agora vejo a moldura exposta que protege o desenho.
Vejo o homem velho que chora de emoção no desenho do desejo.
Agora vejo o sentimento representado e sinto o peso da moldura.
Vejo o medo da responsabilidade das pessoas que conversam na representação.
Agora vejo a impaciência da falsa experiência.
Vejo conversas e ouço os falsos brilhos dessa composição.
Vejo em detalhes as imagens fragmentadas, que nem sempre são coloridas.
Agora vejo a moldura exposta que protege o desenho.
Vejo o homem velho que chora de emoção no desenho do desejo.
Agora vejo o sentimento representado e sinto o peso da moldura.
Vejo o medo da responsabilidade das pessoas que conversam na representação.
Agora vejo a impaciência da falsa experiência.
Vejo conversas e ouço os falsos brilhos dessa composição.
Ninguém
Eu respondo:
-Sou ninguém.
Hoje consigo ver no que me tornei. Virei àquilo que era antes de ser ninguém.
Sou a imagem, a continuação de uma história que se fez, que se sonhou num outro alguém que hoje não é mais ninguém.
Sinto orgulho do ninguém que me tornei. Do orgulho do alguém que não me conheceu, mas que me moldou.
Acho graça da imagem que se faz da imagem que represento. Sou ninguém. Repito.
Não, não é uma luta, é a construção. É a unidade na multiplicidade, ou o seu oposto.
Há de ser nada, ou nada ser.
Lamento por não conseguir ver o ninguém que sou.
Não sou a velha história, faço parte, somente, da trajetória.
Deixe somente comigo o orgulho do que não fui.
Tenho a pele morena da mistura que se fez, sou a mutação.
Gosto quando me olha, mas sei que não me vê. Enxergas somente o alguém que não sou. Não consigo sentir que entende o ninguém que sou.
Faz parte do show os risos, as lágrimas e os aplausos, mas é só mais um show.
Sou somente ninguém.
-Sou ninguém.
Hoje consigo ver no que me tornei. Virei àquilo que era antes de ser ninguém.
Sou a imagem, a continuação de uma história que se fez, que se sonhou num outro alguém que hoje não é mais ninguém.
Sinto orgulho do ninguém que me tornei. Do orgulho do alguém que não me conheceu, mas que me moldou.
Acho graça da imagem que se faz da imagem que represento. Sou ninguém. Repito.
Não, não é uma luta, é a construção. É a unidade na multiplicidade, ou o seu oposto.
Há de ser nada, ou nada ser.
Lamento por não conseguir ver o ninguém que sou.
Não sou a velha história, faço parte, somente, da trajetória.
Deixe somente comigo o orgulho do que não fui.
Tenho a pele morena da mistura que se fez, sou a mutação.
Gosto quando me olha, mas sei que não me vê. Enxergas somente o alguém que não sou. Não consigo sentir que entende o ninguém que sou.
Faz parte do show os risos, as lágrimas e os aplausos, mas é só mais um show.
Sou somente ninguém.
domingo, 25 de abril de 2010
Esses dias eu chorei
Esses dias eu chorei. Chorei por chorar.
Chorei um choro sentido, um choro contido, um choro. Eu simplesmente chorei.
Veio sem razão, veio sem a noção, ele simplesmente veio e me tomou.
Ele veio e fez parte de mim.
O senti sendo criado e quando percebi já estava querendo partir.
Assim como qualquer outra necessidade física do ser humano, apareceu, fez parte de mim e se foi.
Esses dias eu chorei. Chorei por chorar.
E não foi difícil achar um motivo para ele crescer e ganhar força.
Assim como uma gargalhada, eu chorei.
Deixei que me tomasse. Deixei-me sentir essa sensação. Chorei até soluçar.
Chorei até a cabeça ficar pesada e os olhos incharem.
Esses dias eu chorei.
Da mesma forma que se ri, eu chorei.
Assim como às vezes eu sinto sono, eu chorei.Chorei um choro sentido, um choro contido, um choro. Eu simplesmente chorei.
Veio sem razão, veio sem a noção, ele simplesmente veio e me tomou.
Ele veio e fez parte de mim.
O senti sendo criado e quando percebi já estava querendo partir.
Assim como qualquer outra necessidade física do ser humano, apareceu, fez parte de mim e se foi.
Esses dias eu chorei. Chorei por chorar.
E não foi difícil achar um motivo para ele crescer e ganhar força.
Assim como uma gargalhada, eu chorei.
Deixei que me tomasse. Deixei-me sentir essa sensação. Chorei até soluçar.
Chorei até a cabeça ficar pesada e os olhos incharem.
Esses dias eu chorei.
22 de abril
Nunca ganhei na mega-sena, não ganhei um carro no sorteio do shopping. Não ganhei a viagem na rifa. Não aprendi a andar de skate, nem a surfar.
Nunca desci o rio de bóia, nem pulei de pára-quedas ou de asa delta.
Nunca dirigi um caminhão, nem comi ostra. Não chorei a morte do ídolo nacional, não sofri na copa do mundo.
Não senti as dores do parto. Nunca perdi o sono, nem engessei o cotovelo.
Mas já me decepcionei com sonhos.
Já ganhei quando perdi, e continuo ganhando.
A cada dia vejo a reafirmação da bela decepção e por isso continuo acreditando.
Hoje é 22 de abril de 2010. Tenho 29 anos, cinco meses e alguns dias.
Tenho uma família maravilhosa, que está crescendo sempre.
Tenho poucos amigos, muitos amores e outros tantos queridos.
O tempo vai passando, mas sou eu quem estou ganhando.
O cabelo vai caindo e liberando espaço para experiência.
Os dentes vão amarelando e colorindo o dia.
E aos poucos sei que me curvarei para o mundo, até o dia em que ele quiser que eu faça parte dele.
Nunca desci o rio de bóia, nem pulei de pára-quedas ou de asa delta.
Nunca dirigi um caminhão, nem comi ostra. Não chorei a morte do ídolo nacional, não sofri na copa do mundo.
Não senti as dores do parto. Nunca perdi o sono, nem engessei o cotovelo.
Mas já me decepcionei com sonhos.
Já ganhei quando perdi, e continuo ganhando.
A cada dia vejo a reafirmação da bela decepção e por isso continuo acreditando.
Hoje é 22 de abril de 2010. Tenho 29 anos, cinco meses e alguns dias.
Tenho uma família maravilhosa, que está crescendo sempre.
Tenho poucos amigos, muitos amores e outros tantos queridos.
O tempo vai passando, mas sou eu quem estou ganhando.
O cabelo vai caindo e liberando espaço para experiência.
Os dentes vão amarelando e colorindo o dia.
E aos poucos sei que me curvarei para o mundo, até o dia em que ele quiser que eu faça parte dele.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Anjos com tomate
Sobre uma toalha cor-de-rosa, deitada ao lado de uma pequena Pantera Cor-de-Rosa escrevo.
Descrevo.
Um instante que fotografo com a caneta prateada e com detalhes em cor-de-rosa.
A cama fica aos pés da janela de venezianas que parece fazer questão em exibir a luz do dia que ilumina a pele do meu joelho.
Nas paredes brancas, nenhum quadro, somente desenhos feitos com os movimentos do dia.
Um ventilador de teto para refrescar o corpo e um minuto sozinha para a mente.
De colorido, somente as roupas que secam dependuradas na cama ou atrás da porta.
Daqui posso ver o céu, algumas folhas da palmeira da casa do vizinho e um pedaço do telhado.
Tudo recortado em seis partes iguais, as grades me protegem do mundo de fora e me aprisionam no mundo aqui dentro.
Na segunda e na quinta divisão desse céu, dois pequenos anjos.
Uma escolha.
Hoje almocei anjos regados a molho de tomate e carne moída.
Mas assim como eu, estão presos a fios e linhas transparentes. Não há como fugir ou correr, não existe esconderijo.
A linha entrega o caminho seguido. Os anjos estão vulneráveis a ação do tempo.
Acalmaram, parecem entender o destino, aceitar a situação. Admirar da janela a chuva que amolece o corpo, desfaz a cor, o sol que resseca e quebra.
Descrevo.
Um instante que fotografo com a caneta prateada e com detalhes em cor-de-rosa.
A cama fica aos pés da janela de venezianas que parece fazer questão em exibir a luz do dia que ilumina a pele do meu joelho.
Nas paredes brancas, nenhum quadro, somente desenhos feitos com os movimentos do dia.
Um ventilador de teto para refrescar o corpo e um minuto sozinha para a mente.
De colorido, somente as roupas que secam dependuradas na cama ou atrás da porta.
Daqui posso ver o céu, algumas folhas da palmeira da casa do vizinho e um pedaço do telhado.
Tudo recortado em seis partes iguais, as grades me protegem do mundo de fora e me aprisionam no mundo aqui dentro.
Na segunda e na quinta divisão desse céu, dois pequenos anjos.
Macarrões dourados giram, balançam pra lá e pra cá, como se não soubessem em que mundo entrar.
Uma escolha.
Hoje almocei anjos regados a molho de tomate e carne moída.
Agora, sabendo disso parecem mais agitados na janela do quarto.
Mas assim como eu, estão presos a fios e linhas transparentes. Não há como fugir ou correr, não existe esconderijo.
A linha entrega o caminho seguido. Os anjos estão vulneráveis a ação do tempo.
Acalmaram, parecem entender o destino, aceitar a situação. Admirar da janela a chuva que amolece o corpo, desfaz a cor, o sol que resseca e quebra.
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