segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sou eu

- Fala que você ganhou!

Lembro da minha mãe sussurrando aos meus ouvidos na mesa da cozinha enquanto eu fazia a lição de casa.

Tinha 15 anos. O presente que eu queria era a Laira. Laira Beatriz foi o nome que dei na minha cachorrinha, Husky Siberiano. Uma cor linda, marrom e branco, olhos azuis, quase cinza.
Minha mãe me deu escondida do meu pai que dizia que “cachorro grande, faz coco grande!”.

Mas mesmo assim, mais uma vez mamãe realizou meus desejos!

Hoje tenho 28 anos, namorei, casei, engravidei, mudei de casa e Laira, firme e forte acompanhou-me nas mais diversas mutações.

Tem medo de fogos de artifício, faz proezas quando sente medo, escala portões enomes de aproximadamente três metros de altura, quebra vitrôs de quinze centímetros e chega na sala por ele.
Adota filhotes de gatos, nunca me deu passarinhos ou ratos de presente, come abacates e mexiricas que caiem do pé. Participou de muitos, muitos churrascos sem pular na mesa ou ficar com o olhar pidão.
Foram muitas as tardes que passeamos nas ruas do bairro Assunção, acompanhou-me em discussões com namorados, flertes e recentemente discuti na rua com uma louca enquanto Laira fazia suas necessidades.
Laira não sabe latir, faz estranhos sons quando quer transmitir algum sentimento.

(huuuuuuuiiiiiuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!!!)

Não rosna para outros cachorros enquanto a provocam na rua, foram tantas as vezes que corríamos e brincávamos de pega-pega no quintal da casa de minha mãe.
Era um tanto indiferente, confesso, tinha vezes que queria conversar e ela não me dava atenção.
Foram poucas as vezes que atrevi-me a dar banho nela, aquela grossa camada de pêlo parecia impermeável, mais fácil era levá-la ao pet-shop.
Nunca fomos viajar juntas, seu porte é muito grande, sem contar a grande quantidade de pêlo que dela se solta.
A cerca de um ano, desenvolveu tumores nas mamas, na pata e recentemente um na parte de trás do pescoço. Nunca reclamou ou chorou.
Hoje, Laira não consegue deitar, cansada, deita suas patas dianteiras e apóia a cabeça ao chão, enquanto as traseiras ficam de pé.
Não debutei, não tive festa de quinze anos, mas tive a Laira! Ainda a tenho, meu coração está apertado, meu olho arde e de nada adianta as lágrimas que dele escorrem, queria estar com ela abraçá-la e dizer o quanto significa pra mim. Mas não posso.
Não está cega, nem banguela, muito menos surda, ainda balança o rabo quando me vê. Tive muitos, quando digo muitos, são realmente muitos, cachorrinhos e outros animais de estimação, mas por nenhum fiquei tão triste por saber que não estaríamos juntos por mais alguns anos.

A Laira é especial, quando dizem que o animal reflete a personalidade do dono, é assim que vejo a Lá, sou eu em animal e sou eu quem estou me perdendo, sou eu quem sinto algo crescendo dentro de mim, sem poder reagir e mesmo assim passar a sensação que está tudo bem.


Sou eu quem vou, sou eu quem fico. Sou eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc sabe que ela nunca foi minha favorita... Ela sempre roubou minhas roupas no varal e fazia coco na minha cama quando pulava a janela... Mas conquistou meu coração com seu jeito carinhoso... Viveu tanto tempo com a gente que já faz parte da família... Me dói muito saber que ela está sofrendo...
Dê.