quinta-feira, 26 de novembro de 2009

E termina assim

E termina assim, sem explicação. Termina de novo e mais uma vez.

Termina sem final o que nunca começou.

Como a onda do mar que mesmo sem força aos poucos desmancha o enorme castelo de areia.

Construído com o tempo e muitas gotinhas de água misturadas a areia.
Que seca e se une uma a outra. Paciência.

Fica só a mancha escura no chão e depois as marcas de pegadas de cachorros, pessoas...constrói outra história, outro olhar, outra poesia.

Uma história que começa pelo final ou que termina no começo. Uma história.

Não uma linha, não um caminho. Uma sinapse. Um choque. Um momento.

Dias que somam meses e meses que somam anos e anos que não foram.
Procuro em cada detalhe um sentido, uma razão. Desaba.

Acabei antes que terminasse, antes que começasse. Borrou.

Borrou o desenho colorido feito com giz de cera, canetinha, purpurina e gliter. A traça comeu, o papel amarelou. A fita adesiva já não gruda mais.

Mas na parede ainda esta a marca que o papel fez com o tempo. Mesmo com tinta nova a marca ainda estará lá. E mesmo sem parede o lugar ainda será o mesmo. E a não-história se fez.

A purpurina já não tem o mesmo brilho. O tempo comeu. Estragou. Marcou. Mas eu estava lá pra sentir.

Eu vi a água se misturar a areia e virar castelo.
Senti o cheiro do papel e do giz.

Brinquei com a cola que secava nos meus dedos.

E estava lá quando a primeira onda chegou. A segunda. A terceira.


Acompanhei o caminho da traça.



Meu rosto brilhou quando assoprei o gliter.

Senti o peso no peito quando vi meu desenho manchar, meu castelo desmoronar
.

Eu sabia que a onda ia chegar, que a traça gosta de papel. Mas eu deixei.

Eu assoprei a flor para que pudesse ver as pequeninas partes brancas voarem. Eu vi.

Não chorei, não gritei, mas eu estava lá quando não podia mais ler as palavras escritas a lápis, mas eu sabia que elas tinham sido escritas.

Acabou antes de a bandeirinha ser estiada. Acabou antes de eu aprender a assinar.

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