Mas esse reflexo passou com o tempo.
Contabilizei que cerca de duas vezes por semana vejo pelo menos um motoqueiro caído pelo caminho.
Esse dado me fez mais uma vez pensar sobre a vida e consequentemente sobre a morte. Vou dividir parte desse pensamento aqui.
Quantas vezes você não deixou o melhor pedaço do que comia por último para poder saboreá-lo com mais lentidão, prazer e cuidado?
A roupa que comprou para usar em uma ocasião extremamente especial. Ou mesmo aquela calça que reservou em um canto do guarda-roupa esperando que ela lhe sirva por pelo menos mais um dia.
Os planos de fazer a poupança e poder comprar o velho sonho da casa própria.
O carro ao completar 18 anos.
A declaração de amor que não teve coragem de fazer. O abraço que não deu esperando o momento certo para efetuar de fato a troca de energias.O telefonema para dizer simplesmente que sente saudades.
Ouvir mais uma vez a voz que por tantas vezes lhe deu alegria.
Sentir o cheiro do perfume do travesseiro da sua cama. Ver o olhar da pessoa amada.Ir ao cinema ver o filme que esperava tanto pela estréia.
Limpar o banheiro. Trocar a lâmpada da sala. Passar a camisa amarrotada que está sobre o sofá da sala, a louça do café da manhã suja na pia. A janela que esqueceu de fechar e deu no jornal da televisão que vai chover ao final da tarde.
Tomar a cervejinha que combinou com os velhos amigos e que ficaram anos sem se encontrar.
Tomar vacina. Pintar o cabelo. Fazer a barba. Depilar a virilha.
E de repente morre. Como assim?
Correu tanto para dar tempo de passar na padaria e levar o pão quentinho pra casa e morre?
Não viu o final da novela das oito!
Não disse para o seu filho que deveria comer verduras.Não o ensinou a amarrar os sapatos ainda.
Quanto vale a vida? Quanto vale deixar para depois? Quanto vale correr o tempo inteiro e não fazer as refeições? Quanto vale deixar de cortar o cabelo, ou usar meia calça azul porque achou que os outros iam te achar estranho, mas que a você ia dar muito prazer?Quanto vale?
Vale?
Pra que correr se nem ao menos podes viver? Pra que pensar se nem ao menos podes opinar? Não tens opinião?
E pensar que não aprendeu a nadar porque teve medo de se afogar. Agora nada contra o tempo ou nem se quer nada mais. Nada.
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