quarta-feira, 23 de setembro de 2009

29, o último dos intes

Começou a contagem regressiva de 365 dias para o fim dos intes. Estranho como a energia muda na data do nosso aniversário, tudo bem que eu não deixo que ninguém que esteja ao meu lado esqueça, mas sinto sim as energias fluindo, emanando...

Não me importa se o fato de eu refrescar memórias, não consiga descubrir quem realmente se lembrou, mas eu esqueço a data do aniversário da minha mãe, tia, avó, namoro, casamento...e isso não significa que não ame as pessoas ou os momentos.

Eu sei que não é uma data que muda um sentimento, um pensamento ou um comportamento, as datas são números que se repetem todos os anos para nos lembrar dos momentos, e esses são importantes pelas sensações e lembranças.


Não sei se é por ser o último ano dos intes, mas cada momento desse dia significou um presente e cada presente um sentimento, um reconhecimento, um re-conhecimento.

Minha avó ao telefone “Parabéns fia!”, um abraço apertado, um pijama, 10 brigadeiros, um sorriso sincero, um “Bom dia mãe!”, uma orquídea rosa, um conjunto indiano azul, um bolo de morango, um beijo na boca, outro na testa, uns muitos recados na página virtual, outros no visor do celular.

“Parabén si! Felicidade eu sei que vc tem, então sei lá, dinheiro!!! hahaha bjo”.

Nos últimos dias dos meus intes reencontrei amigos, músicas, lembranças...e algumas vezes me pego pensando será que eu mereço tudo isso? Como foi que consegui cultivar tudo isso?

Choro pelas perdas, pela saudade, pelo buraco que ficou, a cicatriz que não fechou, mas nos últimos dias dos meus intes percebi que também chorarava por continuar.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A caixa mágica

Nem deu meio dia, lá estava de malas prontas esperando a cavalaria para a viagem.

Passamos o feriado de sete de setembro em Peruíbe, no pequeno grande refúgio tão longe, mas tão perto.

Eis que nesse tão tão distante refúgio de corpo, pensamento e coisas, o Davi descobriu uma vitrola perdida dentre as velharias da goma, não pensou duas vezes em jogar o seu charme e pedir para a avó a vitrola para ele. Ela como toda boa avó que se preze tratou de atender aos caprichos do primeiro e único neto.

No entanto, junto aquela velharia, nenhum disco foi encontrado, um tanto estranho, mas o compreensível Davi aguardou os tão longos quatro dias de descanso até retornarmos a nossa terra natal, São Bernardo do Campo.

Logo na primeira noite que voltamos, fomos à procura e porque não dizer, à caça, de algum disco de vinil para podermos escutar naquela pequena e tão diferente caixa preta com alças.

Enquanto minha tia procurava nas caixas de papelão empoeiradas e perdidas nas estantes e prateleiras, eu e o Davi tentávamos desencaixar as duas pequenas caixas de som que formavam uma tampa para a vitrolinha.

Os parafusos que já haviam se fundido com as porcas, quase não se mexiam, era uma mescla de cores prateadas, verdes e brancas que pareciam calcificadas. Foi preciso além de muita força, um alicate, que por sua vez era mais velho do que a própria vitrola.


Desencaixadas as duas partes da tampa, abrimos uma pequena portinha debaixo da estranha máquina e um fio comprido e marrom encontramos, não perdemos tempo e logo colocamos na tomada e ligamos os outros fios das caixinhas de som em duas das quatro saídas da pequena máquina.

- Achei, achei! – veio minha tia exclamando.

Pegamos os pequenos e pesados discos de vinil que pareciam ainda mais velhos do que a própria vitrola e o alicate, colocamos na máquina e tcharam!!! Funcionou!

O disco ficou ali girando, girando com aquela agulha sobre ele e magicamente sons saíam pelas caixinhas pretas.


Agora, imagino o que esteja se perguntando, o que eles ouviam?

Pois é, essa é a melhor parte da história, nem eu ou o Davi entendíamos absolutamente nada do que se falava naquelas melodias, eram músicas japonesas.

Mas de repente peguei a mim e ao Davi ali, estáticos olhando, ou melhor, admirando aquela pequena caixa preta desmontada em três partes que soltava sons longos e agudos, os dois com leves sorrisos nos lábios enquanto o disco preto rodava.

- Mãe, é assim mesmo o som?
- É Davi, essa é a beleza do som de um disco de vinil.

Ele sorriu e passamos mais algumas horas ali, virando e alternando os pequenos e negros discos sobre a mágica caixinha, sem nada ainda entender.