segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sinto, somente


Não, eu não quero pensar.

Achas que se sinto é porque somente sinto?

Não, eu sinto somente pela causa de eu ser o que sinto.

Não sinto somente por sentir, mas sou sim o que certamente sinto.

Tudo que eu sinto é humano, é sincero, é vivo. E somente o fato de ser vivo, morrerá.

O que dentro de mim acontece é o sentido do meu sentir, é a razão de então pulsar.

Brigo, peço, desejo e quero.

Pois quando quero, não somente o que eu sinto, simplesmente sou.

Não, não sou confusa. Sou sentimentos, sensibilizados pela razão que não é.
Porque não há razão no ser, muito menos no sentir. Simplesmente é.

Não quero mais pensar. Não agora.

Pois quando penso, traio meu sentimento e quem aje é minha razão.
Minha razão está no meu não ser o que sou.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Iogurte

Todo dia de manhã, no trajeto entre São Bernardo do Campo e São Paulo, pego um trânsito digamos educadamente considerável e entre outras coisas que faço, como um iogurte usando uma colherzinha de café prateada que minha tia embrulha pacientemente em um branco guardanapo de papel.

Praticamente já é um ritual:

- Abro o zíper a sacola de tecido bege;
- Abro a sacola de plástico branca que está dentro da sacola de tecido bege;
- Vou tateando as sacolas internamente até alcançar o iogurte;
- Faço o mesmo com a colherzinha;
- Abro o fino, mas firme, papel que envolve o pote de iogurte;
- Dou umas lambidas até que fique totalmente prateado;
- Misturo com a colherzinha até que a parte cremosa se una a parte mais líquida;
- E finalmente saboreio com moderação.

O trânsito tem aumentado nos últimos tempos e juntamente ao iogurte tenho lido um livro.

Enfim, fiz uma associação entre ler e comer:

. Nem tudo que você come você gosta. Assim como ler;
. Nem tudo que você come, te faz bem. Assim como ler;
. Tem coisas, como filé fe frango, que a gente lembra dele o resto do dia. Assim como ler;
. Tem coisas que você come, como biz, que nem percebe que comeu (É impossível comer um só). Assim como ler;
. Tem vezes que você come, que dá indigestão e diarréia. Assim como muitas coisas que você lê.
. Tem vezes que você come que não faz diferença, miojo por exemplo. Assim como muitas outras coisas que você lê.
. Tem coisas que você come e lembra durante uns dois a três dias, feijão, repolho, ovo, pimentão. Assim como ler.
.Tem coisas que a você come e adora, mousse de chocolate, merengue de morango, e comeria muitas outras vezes. Assim como ler.

Qual será a real parceria entre o estômago e a mente?
Eu pelo menos penso muito pouco de estômago vazio, mas penso menos ainda com sono.

Qual será o paralelo entre sono, estômago e leitura?

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Linhas


Olhei pela janela. Mais uma vez.
Percebi o contraste entre as árvores. E entre a cidade.

Entre na cidade.

Uma tinha as folhas cor-de-rosa, delicadinhas e a outra era verde, parecia mais forte.
Tinha uma árvore careca. Com pequenas folhas secas que pareciam querer pular dos galhos.

O céu estava azul, um azul tão azul que era muito mais do que azul.

Na posição em que eu estava, imaginei um corredor de árvores coloridas e de fundo azul. E entre céu e árvores, estavam os prédios.

Sempre fiquei pensando em como é que se fazia paredes curvas, se os tijolos são quadrados.

Na relação de árvores e céu, não existe ângulo reto, somente finas linhas.

Entre linhas, temos o entrelinhas, linhas do tempo, linhas imaginárias, linhas de pensamento, linhas de costura...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Maturidade



Eu gosto do silêncio que fica no fundo azul da piscina, de lamber a tampinha do iogurte. Do som da respiração na música do cantor, de comer os pózinhos no final do salgadinho.

De ficar sem sapato.

Não gosto de chinelos.

De dormir de barriga pra cima.

Eu falo dormindo.

De cantar no chuveiro, no carro, de dançar no dia da limpeza. Gosto de filmes que fazem chorar, de tombos que fazem rir, de me irritar com quem grita na minha orelha.

De perder a paciência. Às vezes.

De rir até chorar. Sempre.

De mostrar que não sei de nada, de falar que Eu sei de tudo.

Gosto de saia. De brilhos no cabelo, pintar as unhas de vermelho.

É uma respiração curta, mas parece ser o suficiente. É a parte mais cremosa do doce. É a única hora de silêncio total.

Eu gosto da bordinha da pizza, de roer o osso da bisteca. De correr com os gatos e os cachorros, de espantar as pombas.

De ver as pessoas andando, pensar no que elas podem estar pensando. Gosto de ficar escutando. Pensando. Sentindo. Sonhando. Entender. Desentender.

É quando se cria o eco, é quando eu fico sozinha, é dos poucos momentos que sou eu mesma e mais ninguém.
Quando sinto porque sinto e somente sinto. Quando não preciso demonstrar minha maturidade.

Maturidade? Matu-ridade. Idade madura.

Maduro? Ma-duro.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O vôo da borboleta

Fico feliz por estar triste.

Hoje estou triste, a borboleta de asas cor-de-rosa com bolinhas brancas voou.

Fico triste, pois sei que sentirei saudades do tempo em que fortalecíamos juntas nossas asas.

Descobrimos o tecer, o esperar e o rasgar.

Hoje, cada uma segue um caminho, uma flor, uma árvore, um amor.

Fico feliz, minha amiga voou, achou um caminho e seguiu.

Acreditou no sonho de lagarta.

Deixou comigo a saudade que hoje carrego no pescoço.

Foi curto o espaço de tempo que passamos juntas, mas o suficiente pra criar laços, admiração e porque não amor?

Sentirei falta dos bilhetinhos, paçoquinhas, pão, café, bolo de caneca, pipoca, beber, cair, levantar, conversas de ramal, conversas virtuais, mensagens no celular, Bubbly, sapatos coloridos, meia calça pink, escovar os dentes, frases idênticas, as piores no ipod, traduções...

Voa, amiga, voa, o mundo agora está mais colorido.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sopro


Você vem e me arranha. Mas eu aprendi a assoprar.
Mas talvez um dia o meu sopro não mais alivie a minha dor.
Talvez um dia, não tenha mais força pra assoprar.
Talvez um dia não exista mais vento.
Talvez um dia não me importe quem assopre.

Mas ainda hoje sinto um ardor.
Sinto a minha dor. Ainda sinto.
Seu arranhão pode acabar rasgando a minha pele.
Minha pele que tantos cremes passei.
Que tantos carinhos senti.

Ainda sangra.
Mas posso talvez não me importar com quanto sangue ainda hei derramar.
Sinto medo de um dia não me importar com a cicatriz que irá me deixar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Impermeável

Não deveria ser uma troca?

Nós todos vivemos. Acho. E qual seria a razão da nossa existência?
Muitas respostas e teorias existem para explicar essa questão, mas acredito que me apoiando em todas as respostas e teorias feitas e refeitas, pode-se chegar somente a uma conclusão:

Independente de qual seja a opinião da pessoa, do ser. Deveríamos “tirar onda”.

Mas em que consiste esse “tirar onda”?

Eu lhe digo:
Aproveitar a oportunidade, não nos prender a conceitos e pré-conceitos, ajudar, dar, pedir, negar, assumir, ver, sentir, manter, levar, trazer, respirar, amar, brigar e relevar. Verbos.

Mas acredito, sobretudo, em prós e contras. Afinal, já dizia um certo alguém:
O que seria do verde se não existisse o amarelo?
Que chato seria se todos usassem cinza, não é? Mas não seria o ideal seria se todos tivessem pelo menos o cinza?

Agora, retorno à pergunta inicial:
Não deveria ser uma troca? Não deveria ser uma troca de boas intenções?
Eu te ajudo e você me ajuda, simplesmente porque quero o seu bem.

Mas o que acontece é:
Eu te ajudo e você me paga e o resto que se vire!

Tem um homem vestido de amarelo lá fora, sob a chuva forte de São Paulo em plena quinta feira de inverno. Em sua roupa amarela sobressaem faixas prateadas luminosas.

Ela é impermeável!

E existem muitas outras pessoas no final desses fios e ondas passam entre nós. E tanto no início quanto no final dessas ondas e fios, existem mais pessoas.

Nem todas vestem amarelo ou cinza, ou mesmo prateado. Ou quem sabe se quer vestem. Mas o que é que eu tenho a ver com isso?

A resposta deveria ser nada, mas é tudo. Porque ainda assim é uma resposta. E sendo tudo, sendo todos, sou eu.

Controle? Pra que? Por quê?

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Elementos


Uma vez o clorato de potássio eu encontrei, uma fusão aconteceu.
Ao aquecer, as partículas se separaram e sulfeto de antimônio ele se tornou.

Durante a transição, os componentes se uniram e deu surgimento a um novo elemento, o trióxido de ferro.

Percebi que ao isolar elementos e posteriormente uni-los, em separado, a outros componentes já conhecidos, poderia ter-se semelhantes substâncias. Pois química ainda seria.

Mas nada deu resultado tão significativo do que o clorato de potássio, o sulfeto de antimônio e o trióxido de ferro juntos.

O que determinou o super aquecimento de todos os elementos já encontrados.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Grão

Escuro... Um grão. Mexia. Era matéria e estava vivo.
Envelhece... Mas antes, cresce, enrubesce e amadurece.
Na escuridão, se mexia. Um grão.
Revirando e mexendo, orgânica matéria.
Uma vida que crescia e que poderia nascer.
Contorcia e se abria.
Violeta, cor-de-rosa, amarelo e azul.
O azul mais cor-de-rosa que já se viu.
Sentia.
O cheiro colorido que produzia. Sentia.
Saudade do tempo que não se foi. Dos sonhos que ficaram.
O grão que contorcia, agora crescia.
Pequeno e frágil grão. Linhas e sons.
Liberto se sentia, ainda que preso estivesse pelos pés que não eram.
A cabeça não pensava. Voava.
O grão que libertava das coisas que os pés prendiam, cheirava um cheiro que não sentia.
Um cheiro de saudade.
Os pés futuramente cortados, podados e consumidos.
Perderia a identidade e na saudade para sempre ficaria.
O grão correria se pudesse, se o sonho tivesse.
Sentia o amarelo chamando o cor-de-rosa de azul.
Cores, agora não possuía, porque só sonho ele tinha.
Via sem os olhos, as nuvens que sorriam e o chamavam de grão.
As nuvens que de certo nunca alcançaria, porque um grão para sempre seria.
A colheita chegaria e seus sonhos perdidos para sempre estariam.
Dependia. Como sempre dependeu.
Porque grão ele foi e grão ele era.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Cor-de-rosa


Quando na realidade cheguei e nessa vida me deparei, criei pra mim um mundo particular. Por algum tempo ali estive, e nem se quer com meus pais queria me comunicar.

Teria essa menina altismo?

Não participava, não conversava, não sei o que pensava.
Tudo o que eu sei, foram histórias que me contaram.
Um patinho feio.
O tempo passou e aos poucos permiti que o mundo fizesse parte de mim. Abri uma fresta para que os outros pudessem participar observando.
Lembro-me das fortes dores que sentia na infância. Dores na cabeça e depois dores nas pernas. É tudo que lembro.

Será um choque com a realidade?

Cresci, o mundo aceitei e ele me aceitou.

Será?

E por mais um longo tempo permiti observar e que me observassem, risadas eu dei. Mas sobretudo, lembro-me das vezes que chorei. Tive que aceitar a perda e vibrar com os ganhos.

Eu digo, não é fácil viver, mas aprendemos situações. Enxergar e tentar aceitar as ações. Lembro dos amigos da infância, dos amores da adolescência. Provas de matemática. Salgadinhos no intervalo. Escorregar de calcinha no quintal ensaboado.

A cachorra atropelada na frente de casa. O gato duro na lavanderia. Os pulos no pescoço do meu pai. O esconde-esconde dele com o gato. A chinelada na bunda no banheiro. A cabeçada no poste e depois na árvore.

Andar pela rua cantando alto com as amigas. O soco no filho da professora no anfiteatro. As brigas nos jogos escolares. A briga com o professor de português. O professor de física que comeu a semente da minha maça. A coxinha que fiquei só com a pontinha.

O dia em que ganhei o patinete. A Laira. As bolachas com manteiga em cima do prato de café da manhã. Os acenos de tchau na perua da escola.

O último tchau e o primeiro oi. A primeira lágrima de amor. A última lágrima de dor.

Hoje tento não mais pro meu mundinho voltar. É difícil. A realidade quer me pertubar. É difícil ensinar o que é amar. Pra quem não quer ser amado. É difícil aceitar que o mundo não é cor-de-rosa.

Mas pra que entender? Pra que aceitar? Pra que?