Quando na realidade cheguei e nessa vida me deparei, criei pra mim um mundo particular. Por algum tempo ali estive, e nem se quer com meus pais queria me comunicar.
Teria essa menina altismo?
Não participava, não conversava, não sei o que pensava.
Tudo o que eu sei, foram histórias que me contaram.
Um patinho feio.
O tempo passou e aos poucos permiti que o mundo fizesse parte de mim. Abri uma fresta para que os outros pudessem participar observando.Lembro-me das fortes dores que sentia na infância. Dores na cabeça e depois dores nas pernas. É tudo que lembro.
Será um choque com a realidade?
Cresci, o mundo aceitei e ele me aceitou.
Será?
E por mais um longo tempo permiti observar e que me observassem, risadas eu dei. Mas sobretudo, lembro-me das vezes que chorei. Tive que aceitar a perda e vibrar com os ganhos.
Eu digo, não é fácil viver, mas aprendemos situações. Enxergar e tentar aceitar as ações. Lembro dos amigos da infância, dos amores da adolescência. Provas de matemática. Salgadinhos no intervalo. Escorregar de calcinha no quintal ensaboado.
A cachorra atropelada na frente de casa. O gato duro na lavanderia. Os pulos no pescoço do meu pai. O esconde-esconde dele com o gato. A chinelada na bunda no banheiro. A cabeçada no poste e depois na árvore.
Andar pela rua cantando alto com as amigas. O soco no filho da professora no anfiteatro. As brigas nos jogos escolares. A briga com o professor de português. O professor de física que comeu a semente da minha maça. A coxinha que fiquei só com a pontinha.
O dia em que ganhei o patinete. A Laira. As bolachas com manteiga em cima do prato de café da manhã. Os acenos de tchau na perua da escola.
O último tchau e o primeiro oi. A primeira lágrima de amor. A última lágrima de dor.
Hoje tento não mais pro meu mundinho voltar. É difícil. A realidade quer me pertubar. É difícil ensinar o que é amar. Pra quem não quer ser amado. É difícil aceitar que o mundo não é cor-de-rosa.
Mas pra que entender? Pra que aceitar? Pra que?
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